O Forte
O Forte a que se refere o Padre
Hipólito nas Memórias paroquiais de 1758 e que existiria desde há séculos
atrás, terá sido destruído aquando das disputas fronteiriças, após a
proclamação da independência em 1 de Dezembro de 1640, pois proclamar não
significa restaurar e as pequenas invasões que se seguiram a esta data e
durante 28 anos, principalmente nas zonas fronteiriças, deixaram um rasto de
destruição e morte difíceis de avaliar.
Os Castelhanos, invadiam as nossas
terras, roubavam, incendiavam e destruíam. Os nossos retaliavam quando e como
podiam.
A prova de que a consolidação da
independência foi dramática para esta região é que Braz Garcia de Mascarenhas,
Governador de Alfaiates por volta de 1641/1643, travou duras batalhas com os
vizinhos, das quais saiu vencedor.
Não foi só no Soito que o rasto
de destruição se fez sentir, também Aldeia da Ponte, Alfaiates, Malhada Sorda e
outros povos, sofreram pesadas consequências e pagaram cara a vontade de
liberdade e independência.
Em 1661 o Duque de Suna, (ou
Luna?) invadiu esta região e “depois de
queimar várias povoações só achou resistência no Souto onde perdeu 200 homens e
se retirou para Albergaria”
Tinha o Soito nesta altura um bom
grupo de tropas de cavalaria, já que documentação datada de 8 de Abril de 1664
dá-nos conta da existência de pelo menos o Capitão Diogo Martins Amaral (o
capitão Tolda) e dois tenentes; um chamado Fortes e outro Francisco Gonçalves
que participaram, defendendo as nossas terras.
Embora a paz fosse assinada em
1668, o sossego foi curto, pois o País, vinculado à aliança com Inglaterra, foi
por esta obrigado a entrar de novo em guerra com Espanha.
Foi no seguimento da
independência e devido a estes actos de violência e vandalismo, que uma grande
parte do património histórico do Soito e de outros povos vizinhos se perdeu
para sempre, seria então que o Forte do Soito foi destruído e jamais levantado,
mas lá continua o nome do bairro e de várias ruas a perpetuar esse passado
histórico.
Por essa época e até meados do
século XIX, era comum e com a maior impunidade, retirarem as pedras dos
castelos, de pontes, fontes ou outros monumentos para construção das casas
particulares.
Foi devido à delapidação deste
património que a Câmara, no seu Código de Posturas datado de 17 de Maio de 1854
decreta no artigo 4º: Toda a pessoa de
qualquer qualidade ou condição que seja que tirar pedras do castelo, muros,
ponte e fonte desta villa e das pontes ou fontes das freguesias, além da sua
reposição no antigo estado, pagará por cada pedra seis mil reis.
Esta coima era a mais elevada de
todas as que eram impostas nos 82 artigos que compunham o referido Código.
Em 1762 somos de novo invadidos
na chamada guerra dos sete anos, que como em outras ocasiões deixou marcas de
destruição na região raiana, que obviamente era a mais massacrada, depois veio
a guerra peninsular (1808 a 1814) que foi a causa por que as igrejas do Soito e
de outras povoações ficassem “despidas de
adornos” e “todo o ouro fosse roubado pelos franceses para cunhar moeda.”
(Nicole Gotteri in Napoleão e Portugal)
Ainda hoje se recorda e perpetua
o nome e sítio do Forte através de várias ruas e travessas a quem foi dado esse
nome.
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