O passado mais distante
As memórias de um povo dependem
desse mesmo povo e da sua capacidade em preservar os vestígios herdados dos
seus ancestrais, é ele o povo, na medida em que o souber fazer, que ao escrever
essa mesma história, se torna responsável pela transmissão e ligação do passado
ao futuro.
Não é visível, do ponto de vista
patrimonial, qualquer sinal de que o Soito seja uma povoação medieva, há
contudo documentos que fazem prova e testemunham uma idade bem remota.
O historiador A. de Almeida
Fernandes no seu livro Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas editado em 1997,
cita “ Caliabria teneat de Sorta usque
Albernam, de Sotto usque Farum” acabando por concluir que este Sotto teria
sido uma civitas de Transcudani, e
que correspondia claramente a Souto, concelho do Sabugal: a paróquia visigótica
de Sancta Maria de Sotto, mais tarde
chamada Santa Maria do Souto de Riba Côa, o que demonstra num mapa onde Sotto
aparece situado na actual localização geográfica do Soito.
Sabemos que a Caliabria existiu e
que os seus bispos tomaram assento nos concílios de Toledo, mas que
posteriormente, os suevos e os visigodos foram expulsos ou absorvidos pelos
Mouros que dominaram uma grande parte do território peninsular durante os
séculos seguintes.
Quando a região de Riba Côa, da
qual o Soito faz parte, passou para o domínio Português em 1297 através do
Tratado de Alcanizes, continuou a mesma a fazer parte do Bispado da Ciudad
Rodrigo até 1403 e era daí que as paróquias eram governadas em termos
religiosos.
Foi o Bispo de Lamego D. João Vicente
que conseguiu a desanexação do território o que foi confirmado por bula de
Bonifácio IX a 5 de Julho de 1403, passando esta faixa de território a fazer
parte da Diocese de Lamego até à criação da Diocese de Pinhel em 1769, ou
1770?,para a qual transitou até 1822, altura em que extinta esta, foi
incorporada na Diocese da Guarda a que ainda hoje pertence.
Em 1341, o Soito (Souto) já
constava na lista das Igrejas de Riba Côa no termo do Sabugal, (Sabugal, Vale de Espinho, Souto, Aldeia dos
Freires, Caria Talaia, Vila Boa, Aldeia do Bispo e Quadrazais, num total de
quinze Igrejas, incluindo Igrejas e Ermitanias) que à altura pertenciam ao
Bispado de Ciudad Rodrigo. (História da Diocese da Guarda de Pinharanda Gomes)
Algum tempo depois, exactamente a
3 de Junho de 1359, os juízes exactores
reunidos na cidade da Guarda principiaram a taxar as Igrejas pertencentes
ao dito Bispado que estavam dentro dos limites de Portugal, sendo então a
Igreja de Santa Maria do Souto taxada em 10 libras.
A
propósito, devo esclarecer, que a primitiva paróquia de Santa Maria do Souto, a
que muitos e variados documentos se referem, só mais tarde passaria a ter por
padroeira Nossa Senhora da Conceição, já que o culto à Imaculada, começou a
generalizar-se a partir do século XIV, depois do Sínodo de Salamanca efectuado
em 29 de Outubro de 1310, mas só em meados do século XVII (25 de Março de 1646)
D. João IV a proclamou padroeira “dos
nossos reinos e senhorios” o que seria confirmado pelo Papa Clemente X em 8
de Maio de 1671.
Nos registos
paroquiais mais antigos e chegados até nós (séculoXVII) já era referida a freguesia de Nossa Senhora da Conceiçãm do
Lugar de Souto e alguns anos mais tarde os párocos escreviam: Soutto, freguesia de Nossa Senhora da
Conceição de Cima Côa.
No século XV e a crer nas
informações dadas pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, era anexa à
Matriz do Soito, a Igreja de Santa Madalena de Vale de Espinho.
Nesses tempos, a dependência dos
povos, no aspecto religioso, flutuava à mercê dos interesses dos prelados que
atribuíam benesses e privilégios aos seus protegidos, estivessem ou não
colocados em grandes povoações, em desrespeito pela grandeza populacional dos
povos.
Em 1511 e segundo M. Gonçalves
Pereira em Historia do Bispado de Lamego, o Sabugal tinha três paróquias: São João com as anexas da Nave e Lageoso,
São Miguel à qual estava unida a do Soito, apesar de ser câmara do Bispo e
Santa Maria.
Diz ainda que “os frutos da Paróquia de Santa Maria do Souto no valor de 80.000 reis os colhia
João Álvares Pereira e deles pagava 20 ao Prelado, a Vigararia, incluindo as
anexas, rendia 24 mil reis, conforme informação do pároco João Fernandes”.
Diz ainda que se “intitulavam Câmaras do Bispo as paróquias
de Parada, São Domingos, Trevões, Canelas, Izivo, (Azevo?) que pagava 1.500
reis, Aveloso, Bramador e Souto de Riba-Côa”.
Após a Restauração da
Independência e aquando das disputas fronteiriças então verificadas, diz J. M.
Correia, citando Portugal Restaurado, que os generais D. Sancho Manuel e D.
Rodrigo de Castro se reuniram no Soito com as suas forças militares e daqui
partiram para Alcântara com 400 cavalos e 250 infantes, logo, é de presumir,
ainda que a história o não diga, que entre estes soldados alguns seriam
certamente Soitenses, fortes e destemidos como sempre foram, comandados pelo
capitão Diogo Martins de Amaral (o Tolda).
No período pós restauração, a
confusão e a desordem estavam instaladas na região e o Soito sofreu duramente
as consequências da semi-anarquia que reinava: tanto o Soito como alguns povos
vizinhos foram saqueados e espoliados dos seus maiores valores, não só pelos
invasores, mas também por vizinhos bem próximos, talvez salteadores e mais bem
armados.
Devido ao vandalismo e à barbárie,
que se hoje existem foram muito mais praticados pelas gerações que nos
antecederam, quer através das lutas e guerras fronteiriças, quer através do
saque e vandalismo perpetrados pelos invasores ou pelo simples prazer de
destruição que aliás não atingiu apenas o Soito, já que há registos de
destruição em Alfaiates, Quadrazais, Aldeia da Ponte, Malhada Sorda e outros
povos que, algumas vezes incendiados, se viram esvaziados de uma boa parte do
seu património histórico.
Diz o “Reytor” António Carvalho
Baptista, em
Memórias Paroquiais de Alfaiates: avistão-se para poente correndo a sul as capelas de S. Braz e Santo
Amaro no lugar do Souto… e referindo-se à guerra diz que por alturas de uma
invasão de tropas castelhanas, que andariam “nos carrascais da Rebolosa, vieram as tropas do Souto, Quadrazais,
Malcata e Sabugal aliadas a esta goarnição lhe saíram ao encontro, obrigando as
tropas inimigas a huma vergonhosa retirada”, isto por volta de 1709 segundo
a mesma fonte, o que significa que o Soito tinha então um corpo de tropas,
situação que também parece ser confirmada, ainda que indirectamente, pelos
capitães, tenentes e sargentos que são referidos nos registos paroquiais da
época.
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