Os Gabrieis e a revolta
popular, (História e tradição)
Era uma das mais poderosas e influentes famílias do Soito no
século XIX e princípios do século XX.
Gabriel Nunes, o patriarca, filho de Manuel Nunes e de Luísa
Nunes, casou em 2 de Setembro de 1775 com Ana Lourenço, filha de Francisco
Lourenço e de Isabel Lourença.
De entre os seus vários filhos, destacamos José Nunes do
Gabriel que viria a casar com Joaquina Garcia filha de Joam Garcia e Maria José no dia 28 de Fevereiro de 1813, tendo
morrido ambos no mesmo dia (10 de Agosto de 1834.)
Deste casal nasceu outro José Nunes do Gabriel que casou com
Maria Garcia.
Era filho deste casal, Manuel Nunes Garcia que foi pároco do
Soito desde 1876 até 1905, ano em que morre no dia 6 de Agosto, aos 59 anos, e
um outro filho também chamado José Nunes do Gabriel (responsável pelo Posto
hípico concelhio sediado no Soito) que casou no dia 28 de Junho de 1863 com
Catharina Carrilho, fica viúvo no dia 28 de Agosto de 1908, e, aos 68 anos,
casa com Maria da Glória Nunes no dia 5 de Maio de 1909, tendo morrido no dia
10 de Março de 1931 aos 92 anos. (Teve a sua última filha, Maria no dia 28 de
Dezembro de 1917 aos 77 anos.
Deste casal nasce, entre outros, Manuel Nunes Garcia, (que
foi buscar o Garcia à avó paterna) Bacharel em Direito, que viria a casar em
Alfaiates com Clara Laura Freire Falcão em 1 de Abril de 1890 (registo numero
4, feito pelo pároco Francisco António Pereira.)
Foi Administrador do concelho em 1898 e 1899 e de novo em
1905-1906.
Foi notário no Sabugal entre 17 de Janeiro de 1900 até 18 de
Março de 1916, foi ainda Presidente da Câmara do Sabugal entre 1892 e 1895 e de
novo em 1897.
A revolta popular aconteceu no dia 25 de Janeiro de 1906,
depois da morte do padre Manuel Garcia ocorrida a 6 de Agosto de 1905.
O povo estava cansado de ter um Padre da terra, (30 anos) e
que segundo testemunhos, não seria propriamente um exemplo de virtude, já que
tinha um filho, conforme consta no assento de óbito, de uma criada chamada
Margarida Neves, natural do Mido, concelho de Almeida e do qual ainda há
descendentes. Era seu filho o professor José Augusto Garcia que casou em Vale
de Espinho com Ernestina Lopes e sabemos que uma neta: Maria de Jesus Lopes
Garcia, casou com Carlos Manso Tolda, filho de José Joaquim Tolda e de Benedita
Manso Rito, em Coimbra no dia 14 de Fevereiro de 1942.
O Povo, confrontado com a vontade da família dos Gabrieis de
querer colocar nesta paróquia um novo Padre de sua escolha, eventualmente o
padre Júlio Garcia, irmão do Dr. Manuel Nunes Garcia e sobrinho do anterior
Padre, porém os Soitenses exaltaram-se e recusaram essa pretensão que pela
força lhe queriam impor.
Tendo o apoio do Administrador do concelho, (o dito
familiar) julgavam os Gabrieis ter a força moral e legal para obrigar os
paroquianos a ceder aos seus desejos ou interesses, mas depararam com a total
oposição de um povo unido e decidido a lutar pelos seus princípios e direitos.
Não foi pacifico o desenvolvimento deste processo, que
dava argumento para um filme, pois a força do poder político e económico dos
Gabrieis que se julgavam com direito a submeter os aldeões à sua vontade, não
contava com a força da unidade popular de um povo que se revoltou ainda mais
após aqueles terem usado a força militar, que facilmente requisitaram face à
sua riqueza e à posição social e politica de que desfrutavam.
Ao terem conhecimento da vinda dessas forças, que
entenderam como repressivas, alguns populares subiram à torre e tocaram o sino
a rebate para o povo se reunir e defender os seus direitos, foram então
alvejados, porém as balas apenas atingiram os sinos, marcas que só
desapareceram com a venda ou troca dos sinos feita pelos padres posteriores.
Da contenda resultou a morte de duas mulheres na escada do
Ti Patrício, (uma casa então existente em frente à actual casa mortuária, que
segundo os registos dos óbitos de 1906, eram: Luísa Nunes Dias, solteira,
tecedeira, de 20 anos, filha de José Nunes Dias e de Maria Fernandes Russo e
Quitéria João, de 70 anos, viúva de João Gomes, filha de Manuel João e de Ana
Dias, morreram ambas numa casa da Rua do Pereiro ás nove e meia da manhã do dia
25 de Janeiro de 1906, “sem sacramentos”.
Contudo, cientes da sua força, os populares, não
desanimaram e obrigaram parte da dita família a encetar a fuga para Alfaiates,
onde tinha familiares; o atrás citado Dr. Manuel Nunes Garcia, digo parte da
família porque um irmão do padre; José Nunes do Gabriel, casado com Catarina
Carrilho e depois com Maria da Glória Nunes viveu no Soito até à sua morte no
dia 10 de Março de 1931 e foi durante muitos anos o responsável pelo posto
hípico concelhio sediado no Soito.
Os militares, ao darem-se conta, de que o objectivo da sua
vinda não fora a manutenção da ordem mas a imposição da vontade por parte de
uma minoria, colocaram-se ao lado do povo, não antes de que um deles, ao tentar
fugir, tenha enveredado por uma rua sem saída (a rua detrás do actual salão
paroquial) ali ter sido bastante maltratado e sofrido as consequências da
revolta do povo.
Alguns populares, talvez a maioria do povo, furiosos com a
maneira como foram tratados, dirigiram-se à casa de habitação dos fugitivos e
despejaram na via publica todos os seus bens, móveis e alimentares
A verdade é que o Padre não tomou posse da paróquia, (o
lugar foi ocupado pelo Padre José da Silva Elvas, que já o vinha exercendo
desde a morte do Padre Manuel Nunes Garcia) e o nome dos Gabrieis acabou por se
extinguir da povoação, restando no entanto no cemitério um túmulo em nome de
José Nunes do Gabriel e esposa Maria Garcia, para além de uma longa história
familiar e uma numerosa descendência ainda viva, mas que, como é óbvio, nem
conhece o nome dos seus ascendentes. (O apelido Gabriel durou apenas pouco mais
de um século, mas o seu sangue continua a correr nas veias de muitos Soitenses,
que nada têm a ver com o sucedido)
Para completar a informação devo dizer que aquando da
terraplanagem dos terrenos para abertura da estrada Soito Alfaiates, em 16 de
Setembro de 1956, os descendentes desta família impediram os trabalhos negando
a passagem da estrada pelas suas quatro propriedades e obrigaram a Junta de Freguesia
do Soito a negociar com o seu representante tendo sido acordado em 15 de
Outubro no pagamento de 6.000$00 à dita família para que a estrada continuasse
o que obrigou a Junta a contrair um empréstimo bancário para fazer face a este
encargo.
Nenhum dos restantes proprietários onde a estrada foi
aberta fez qualquer exigência, pelo menos não consta disso qualquer prova
documental.
Ps: Uma das mulheres mortas pelas tropas: Quitéria João,
era mãe de José Gomes que casou com Isabel Robalo no dia 15 de Janeiro de 1894.
Avó de Maria Augusta Gomes casada com Manuel Gomes Frade no dia 17 de Maio de
1923 e bisavó dos irmãos Gomes Frade: Bernardo, Isabel, Jaime, Manuel, João,
José…
ticarlos
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